"Quero sempre mais de mim, e fracasso sempre" gritei-te enquanto abruptamente batia a porta do meu quarto, arrastei-me até à cama, permaneci numa posição desajeitada, cabeça entre as pernas, aproximadamente uns cinco segundos, limitei-me apenas a esperar que entrasses por aquela porta sem maçaneta já, de tantas vezes que descarreguei nela a minha frustração, mas um sentimento inesperado derrubou-me para o lado, estarias a demorar mais do que habitual, fraquejaste como eu, ou ignoravas-me agora? Não, pela primeira vez tu não vieste consolar-me com palavras doces, deixaste-me chorar feito Maria Madalena, logo eu que não sou católica, porquê? Sussurrei para o meu interior, porquê não vieste? Esperei ali até ao jantar, na casa não se ouvia qualquer espécie de barulho, conseguia agora ouvir o meu coração, batimentos cada vez mais lentos, estava literalmente fraca, consumida pela raiva mais que pela fome, há alguns dias que não comia, mas não era essa a fome que eu tinha, tinha fome de sonhar, de alcançar, fome de ti, do teu consolo, não saí para jantar, ao meu quarto ninguém reclamou, naquele momento só precisava de um pouco de atenção, encostei-me mais uma vez à cama, ensonada, os meus olhos pesavam bastante agora, ali fiquei umas três horas talvez, esperei que aquele silêncio adormecesse, não o queria acordar e denunciar a minha saída, abri a janela e uma lufada de negro inundou-me, estava completamente de luto agora, saltei pró jardim do vizinho, o Silvestre saltou-me em cima, mas para meu espanto e alegria não ladrou, ele talvez me compreendesse e apoiasse. Esperei o amanhecer deitada na areia gelada e molhada, no regresso a casa, não entrei pela janela aberta do meu quarto, enchi o peito de coragem e entrei pela porta da frente, queria enfrentar-te, questionar-te, abraçar-te.. Abri a porta de uma vez só, apressei os passos na direcção da cozinha onde estarias a preparar o teu pequeno-almoço, entrei com um ar duro e firme, e disse "precisamos de falar" mesmo antes de te procurar, ainda bem que não o fiz, o silêncio da resposta denunciou a tua fuga, esperei a hora do almoço, e não vieste. À hora do jantar abriste sossegadamente a porta, eu esperei-te mesmo a uns passos dali, esperei uma reacção, e sorriste, tremi, juro que tremi, não sabia o significado daquela expressão na tua cara, vieste junto a mim e abraçaste-me, junto ao ouvido entrou algo que nunca mais esqueci "Nem sempre temos tudo o que queremos, às vezes não é por culpa nossa, nem sempre somos nós que fracassamos, às vezes é o mundo que fracassa à nossa frente, tens que aprender a amar o que tens." Naquele momento não tive nenhuma reacção, esperei que me soltasses, virei costas e saí dali, na altura não pensei muito naquilo, agora que os anos passaram, aprendi contigo cada sentido das palavras daquela frase, fracassar e querer mais de nós é humano, querer o que não temos também, mas amar o que temos é inteligência.
Hoje agradeço a minha vida ao único homem da minha vida, a minha mãe!
1.23.2010
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7 comentários:
Que perfeito. Fizeste-me sentir o que escreveste :# *
Senti mesmo , e adorei te digo .
As mães são sempre os melhores homens das nossas vidas (;
Sabes tenho vontade de começar de novo tenho mesmo , mas fico sempre sem coragem o meu coração é tão pequeno , mas não para de bater por quem não merece um unico segundinho que passa .
Só queria ser mesmo a lua refugiada de tudo mas todos a vêm com uns olhos brilhantes (:
Olá (:
Vimos por este meio (xD) informar que criamos um blog, tendo como nome (As crónicas inteligentes de Daniela e Sílvia), que consiste em falar sobre todos os temas da actualidade dando a nossa própria critica/opinião.
Contamos contigo para nos ajudar a evoluir o blog e também a dar a tua opinão.
Se quiseres, podes sempre seguir.
Muito obrigado.
Beijinhos.
Ass: Sílvia
Senti o que disseste. E deixaste uma lição de vida muito fixe nas últimas frases do texto. Espero que a tenhas mesmo interiorizada, gostei muito de ler o texto :D
Beijinho
fantástico, parabéns*:)
"Hoje agradeço a minha vida ao único homem da minha vida, a minha mãe! "
Meu deus , amei :O
Que bonito! *
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