12.12.2009

- o meu marido


O meu marido, anda pelo mundo. E vejo-o às vezes a vaguear pela paisagem estática da janela. E ali anda ele pela paisagem seca e morta. Mas o meu marido precisa disso para se manter acordado, agora não sou mais eu que lhe tiro o sono e que lhe dou prazer, as tenras flores substituíram-me.

Actualmente, o desejo carnal por ele não desperta mais ao seu pequeno toque. Mas ele já não me toca. E já não é como antes, que tremia. Tremia sempre. Enquanto ele sorria, sem que os seus olhos encontrassem os meus. E aqueles olhos. O meu marido tinha uns olhos azuis lindos. O seu brilho chegava para iluminar a casa toda. E não estou a exagerar. Ou talvez só um pouco. E quando ele se esquece e olha para mim sem dar por isso ainda tremo. Os olhos são os mesmos. Os lábios são os mesmos.

Às vezes sinto o tilintar das chávenas que ele ainda teima em tirar da prateleira para preparar o seu café amargo e quente. E eu a decidir se estou acordada, se quero acordar, acordar e sentir que fui esquecida pelo meu marido, mas ainda sou uma mulher. Não deixei de ser uma mulher. Agora tenho outros interesses. Talvez a mágoa. A que ele construiu ao longo destes cinquenta e cinco anos.

Gostava de agarrar no tempo e trazer de novo o meu marido. Aquele dos olhos azuis que chegavam para iluminar a casa. Agora agarro-me à sua fotografia, à que não tenho, à que queria ter, dele, do que era. Do que eu Amei!

P.S.: Se me tivesse casado, por certo o meu marido terias sido tu!

1 comentário:

qu1cksand disse...

Tão querido o texto :P