"Quando o comboio passa e nós ficamos."
Não gosto de despedidas, nunca gostei! Sempre me perguntaste como seria quando tivesses de me dizer -adeus, sempre respondi da mesma maneira, com os mesmos olhos, com a mesma hipocrisia, -para mim não há despedidas, e logo a seguir quase a deixar cair uma lágrima me dizias -e o que faço quando tiver de ir embora?, e eu prontamente te respondia -para mim nunca irás embora, -e como faço isso?, perguntavas-me quase a enlouquecer, -é simples, nunca te despeças de mim!
Foi o meu único pedido, sempre que fazíamos amor, -nunca te despeças de mim! E hoje orgulho-me da tua capacidade de cumprir promessas, nunca pensei que um dia ao acordar iria sentir a imensa dor da tua ausência.
Levantei-me cedo, um dia cinzento, como a minha alma, nunca tinha visto um dia assim, nunca a minha alma tinha estado assim, e saboreei pela primeira vez a palavra despedida! Doía no estômago cada letra, inalava o denso ar que pairava no meu quarto e mal conseguia respirar, sentia-me consumida pela minha própria arrogância, a culpa era toda minha, nunca me soube despedir, nunca pensei que fosse tão duro não o saber!
CORRI, corri e quase cheguei a tocar-te, cá dentro toquei-te uma última vez, e tu aí dentro sentiste o meu toque pela última vez, o comboio parou, e tu entraste e vi a tua sombra a voltar para trás e correr na minha direcção, vi-te a hesitar e quase a falhar o degrau da carruagem, era a despedida perdida, um adeus por dizer!
O comboio passou, e eu fiquei, todos os dias vejo-me sentar no banco da estação à espera que voltes, e todos os dias tu voltas, afinal nunca partiste.