Adeus.

A música não deixou de tocar, mas já não toca como dantes.
Já não existe a eminência do beijo, não já não sinto que te quero, já nem és sonho nem realidade, e quando te queria fingia não querer, e quando não te devia querer corri atrás de ti, estive sempre lá, sempre que me deixavas mais uma vez sozinha, e depois voltavas sempre, mas agora não voltes, não por favor não voltes, deixa-me estar aqui sozinha, com o sonho do que foi, contigo como sonho, como pesadelo e como passado que me foste, agora que ainda te quero, já não te quero comigo, ainda te sonho, mas não nos meus sonhos, já não consigo ver-te como te via, e sei que amei quem foste, aquele que me fazia estremecer, mas agora podes voltar eu não saberei reconhecer-te, mataste-te, mataste-te em mim, não voltes, não me faças chorar mais uma vez, agora que me habituei a viver sem ti, agora que sonho e apenas és figurante, não, não voltes, não me venhas buscar, vai-te embora, agora já não consigo querer-te, estás tão longe, e se quiseres voltar, eu sei que quiseste, mas eu também quis, mas agora quero-te, aí bem longe, morre. Desaparece! Tu mataste quem foste, quem és tu agora? Uma sombra do passado, amei quem tu foste sim, peço-te que me deixes, e não voltes atrás de mim nunca mais, eu já sei viver sem ti, não que tenhas sido tu a ensinar-me não, foram os anos perdidos a esperar por ti, que o tempo esse sempre ensina, não, não quero voltar a ter-te para depois perder-te, morri nesse passado, a que tu amaste morreu também, já não sabemos quem somos, o que fomos, e no que nos tornamos, já não nos conhecemos, o teu olhar ficou morto e vazio no dia que te deixei, não que tenha deixado de amar, mas perdeste um passado, perdeste-me, e eu perdi-te, perdemo-nos, ganhei-te na corrida da espera, não me faças voltar a chorar e a voltar a querer-te comigo, faltam trinta segundos apenas para a minha morte, deixa-me que te escreva uma última vez, a última para recordar, a última para falar de ti, a última em que minhas palavras serão tuas, já que agora nada mais é teu, nada mais é meu, sempre escrevi para ti, por ti, sempre foi tudo para ti, sempre te mantive vivo, sempre te deixei partir, agora que meus olhos teimam em fechar, minhas mãos tremem e o meu coração está a parar, e tu que estás tão longe, uma última vez, quero-te, mas não comigo. Morreste, morreste sempre que partiste e renasceste outras tantas vezes, até que a alma se fartou e morreu, és como cinza, não voltes, não venhas chorar minha morte, não venhas, não te quero ver chorar, não quero que te culpes por me teres morto aos poucos, trinta segundos para eu morrer de ti, em ti, para ti, por ti, não, só por mim, para mim, em mim, e de mim,.. e sempre que voltavas levavas algo de mim, agora resta a mágoa em mim, a angústia, o sufoco, um último adeus de ti, para ti! São as minhas últimas palavras, aquelas que são para ti? Não sinto que terás saudade, essa só me resta a mim, já a tiveste mas até dela tu soubeste fugir, já faz tanto tempo que partiste e pela enésima vez peço-te que não voltes para mim, deixa-te ficar… A saudade deu lugar ao amor, e a tristeza derrubou a saudade, parece um ciclo vicioso, que não gira para lado nenhum, as minhas palavras deixam de fazer sentido, estão a morrer comigo, tudo irá morrer comigo, menos tu, que ficarás aqui, a chorar a minha morte, a morreres de vergonha e pena, por não teres voltado, e pela primeira vez teres atendido a minhas preces, é um adeus ensanguentado, são minhas veias que estão a sair, e pela última vez sinto que estou a voar, e quando tocar o chão, nenhuma dor mais existirá a não ser a de tristeza a de perda a de ausência, não, apenas a de vitoria de saber o quão bom era viver sem ti. Zero segundos,… o dia vestiu-se de negro e chora o teu adeus ! Eu estou aqui, completamente indiferente. Sabes porquê? Porque estas palavras já não são para ti.